"Depois do fatídico churrasco de melancia (que eu não provei e nem quero provar, só para registrar), a patrulha resolveu fiscalizar a Bela Gil. E a última que quase quebrou a internet, na semana passada, foi uma marmita. Um lanche de escola. Esse lanche aqui:
Granola caseira, batata doce, banana da terra e água.
Choveram comentários como:
COLOCA UMA ANA MARIA E UM TODDYNHO PRA ESSA CRIANÇA CRESCER FEITO GENTE NORMAL
(assim, em caps lock)
Fico com uma dó.. sei que é saudável, mas não é nada atrativa aos olhos...
Provavelmente a filha dela sofre bullying no recreio!
(com carinhas de gargalhadas)
Ai a menina cresce descobre o McDonalds e o Burguer king e vive feliz pra sempre! Fim
Imagina o tanto de bullying que a filha da Bela Gil deve sofrer por levar batata doce pra escola... Nossa cadê os danones? E os salgadinhos?
o dia que que a filha da bela gil descobrir uma saborosa COXINHA GORDUROSA teremos um novo caso Suzane Von Richthofen
Eu não tenho pena da filha da Bela Gil. Eu tenho pena das crianças que são entupidas de produtos industrializados e açúcar - sem nem terem a opção de dizer não, porque não conhecem outros alimentos. Eu tenho pena de crianças que não aprenderam a ter uma alimentação saudável desde cedo, porque os pais - esses mesmos que fazem esse tipo de comentários - acham perfeitamente normal dar bolacha recheada e achocolatado para uma criança.
Eu tenho pena de crianças que são vítimas do marketing da indústria alimentícia e dos pais que acreditam que, oferecendo esse tipo de alimentação a elas, estão fazendo elas se enquadrarem e não "sofrerem bullying".
A criança vai sofrer bullying por estar com um lanche saudável? E as pessoas acham isso normal e aceitável (e, pior, engraçado?) Quem é errado, o oprimido - aquele que vai ser zoado pelos colegas por ter levado um lanche saudável - ou o opressor? Então a criança precisa se adequar ao meio - mesmo que ele esteja errado - só para não sofrer bullying? Não, gente. O que é isso?
A filha da Bela Gil tem é muita sorte por ter sido acostumada, desde cedo, a comer esse tipo de comida. Se ela vai comer McDonalds quando crescer? Pode ser que sim. Mas, por experiência própria, e por estar em pleno processo de introdução alimentar com a minha filha, sei que oferecer à criança comida saudável desde sempre - e ensiná-la a gostar dos alimentos, dos sabores e das texturas - é garantir a ela repertório para a vida. Privá-la de alimentos industrializados e porcarias não é fazê-la sofrer. É garantir que seu paladar em formação reconheça e goste de sabores diferentes, e não fique viciado em açúcar, sal e gordura. Se ela optar por comer um hambúrguer, tudo bem: eu dei a ela repertório para que ela fizesse a sua escolha.
Alimentação também é educação. E, assim como em tudo, garantir um bom repertório fará a criança tomar as melhores decisões. Infelizmente, a maior parte das pessoas parece acreditar que comida de criança é bolacha recheada e salgadinho. Não é. Essa é a comida que a indústria tenta vender como infantil - dá uma olhada nas embalagens - e a sociedade acredita, achando que as crianças comem aquilo porque é "gostoso". As crianças gostam daquilo que aprenderam a gostar. Neste caso, eu fico com a batata doce, a banana da terra e a granola caseira da Bela Gil. E quem dera se mais crianças tivessem a sorte de terem pais conscientes como a filha dela".